terça-feira, 6 de outubro de 2009
Monólogo
Não sei se já percebeu o monólogo que você trava enquanto lida com as coisas da vida.
Já reparou que dificilmente um diálogo é mantido com o próximo? Já notou como a mente voa enquanto o outro ou o mundo tem algo a nos transmitir?
Nada mais se faz, além de pegar os dados que lhe chegam e associá-los com os seus próprios conceitos, rótulos e valores, a fim de chegar à conclusão se algo está certo ou errado, se é bonito ou feio, se é verdadeiro ou falso.
Ou seja, o ego humano trava a cada segundo uma conversa com ele mesmo!
Você não conversa com o outro, não sente as coisas do mundo, não vivencia o agora! Prende-se em suas próprias ideias, sente aquilo que você é por dentro, enxerga aquilo que a própria mente fornece. Dificilmente você vive o agora. A maior parte do tempo vive-se preso no passado ou planejando o futuro. Isso lhe impede de ver a essência das coisas.
Não percebe que num contexto geral, ao invés de VIVER, você simplesmente “passa pela vida”!
Um exemplo prático:
Uma pessoa chega pela manhã e te cumprimenta. O que sem perceber você faz?
Automaticamente busca na memória quem aquela pessoa é, o jeito habitual dela, faz um reconhecimento de todas as características, verifica se ela normalmente te cumprimenta ou não, revive as coisas que aquela pessoa já lhe fez ou deixou de fazer, relembra as palavras que ela já proferiu perto de você e que teve a oportunidade de ouvir, busca o conceito já formado daquela pessoa, analisa o que você irá deixar de ganhar se responder ou não àquele gesto simples de educação, confere tudo o que está armazenado em sua base de dados, “bate” as informações com as que foram extraídas ao observar aquela nobre criatura que se apresenta e enfim diz:
- Bom dia!
Depois estampa um sorriso na cara tentando ser o mais agradável possível!
A partir daí, mais informações são processadas.
Com os novos dados adquiridos, a base de dados passa a ser realimentada, substituindo as informações antigas pelas novas. A mente confere se aquela pessoa está ou não com a mesma roupa que usou ontem, se ela apresenta-se com as mesmas feições, se está com expressão de alegria ou não, repara o que ela traz nas mãos para ver se aquilo lhe é útil ou não, verifica se você precisa possuir aquilo, checa se aquele mesmo objeto não é o mesmo que um amigo comprou e ficou muito satisfeito, “cruza” todas as informações numa lógica banal:
Amigo + objeto = Satisfação.
Pessoa de agora + mesmo objeto = aparentemente satisfeito.
Probabilidade de você ficar satisfeito se possuir o mesmo objeto 92%. Enfim diz:
- Que objeto bonito esse em suas mãos! Onde você o comprou?
Parece uma máquina! E muito mais acontece sem que você perceba.
Faça um teste! Puxe conversa com uma pessoa e passe e SE perceber na conversa.
Veja se ao trocar as primeiras palavras com ela a sua mente já não decola. Veja se não passa a formar imagens do que ela diz, se você não “puxa” em sua memória informações para analisar se o que ela diz está correto ou não, tentando julgá-la e puni-la com um comentário. Veja se não confere se ela está sendo repetitiva demais baseando-se nos seus próprios parâmetros de repetição. Veja se enquanto ela fala você não descarta pelo menos 85% daquilo que ela está lhe transmitindo e se não remolda os outros 15%. Sendo assim, quem está conversando com quem?
Faça um teste! Como o que fiz agora...
Este texto não passou de mais um monólogo. Quando você lê-lo, as palavras aqui contidas não lhe transmitirão nada além daquilo que sua mente lhe disser.
Ou seja, o que você ouviu aqui foi sua mente que lhe contou!
guto
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